Expressei a minha preocupação com o elevado número de óbitos extra-hospitalares durante uma apresentação na I Jornada Pedagógica do Hospital Geral dos Cajueiros. Para entender o impacto desse fenómeno naquela unidade hospitalar, fui conduzido a um estudo de campo de três meses, iniciado em Junho e concluído em Agosto.
Durante a colecta de dados, constatei que 96% dos óbitos no Hospital dos Cajueiros são extra-hospitalares, resultantes da negligência dos familiares em chegadas tardias ao hospital, visto que o atraso tem ultrapassado o tempo limite necessário para o tratamento adequado dos pacientes, agravando a sua condição e levando à morte.
Um dos factores que contribuem para os óbitos extra-hospitalares é a automedicação, com pessoas ingerindo medicamentos sem um diagnóstico correcto, uma situação que entristece o médico. Não se compreende, muitas vezes, a justificativa apresentada pelos familiares, já que a saúde em Angola é gratuita e o atendimento nos hospitais está disponível 24 horas por dia. Além disso, o Ministério da Saúde declarou “Tolerância Zero” para actos médicos que violem princípios éticos e deontológicos, o que reforça a inadequação da falta de procura por atendimento hospitalar.
Questionamos o paradoxo de que: Os profissionais de saúde são obrigados a justificar a perda de um paciente por negligência, então por que que os responsáveis por aqueles que morrem em casa não são submetidos a um interrogatório? A defesa da vida não é responsabilidade exclusiva do hospital, mas sim de toda a comunidade.
O estudo também revelou que os mais afectados por óbitos extra-hospitalares são as crianças, que dependem de um responsável para serem levadas ao hospital. A doença que mais contribui para essas mortes é a anemia.
Independentemente do número reduzido de profissionais de saúde, é necessário lançar um novo desafio: “Devemos ir à comunidade para ensinar a identificar os sinais de emergência, para que os moradores possam levar os doentes aos hospitais o mais rápido possível.”